PRELÚDIO À EXPOSIÇÃO
Além dos nossos pés e da calçada virá sempre a terra.
Debaixo das cidades quase sempre, sempre, a origem. Debaixo das cidades as raízes, os rizomas e as fundações, as daninhas, as insubmissas e os rastejantes.
Olhar o solo e a terra como a origem e o princípio de um retorno necessário provoca-me também o sentimento de pensar a terra e o corpo como um só. Terra-corpo, corpo-origem, inicial, ligado. Humano-flor.
Ainda assim, talvez não seja casual que as coisas marginais, fora da regra, desprovidas do controle, intransigentes, surjam no subsolo, na cave, no underground. Até nós queremos estar debaixo das cidades, mas debaixo das cidades estão os corpos surrealizantes, está a terra vertiginosa, está a origem, está aquilo que virá sempre ao de cima.
Não sei se vi algum filme de ficção científica onde a terra debaixo do solo engolia as cidades, e onde voltávamos ao início. Se não vi, podia ter visto.
As cidades são a coisa mais linda do mundo se souberem que debaixo delas está essa potência. Está essa praia.
Olhem a exposição, esta exposição, como uma constelação, como uma audiência onde as obras e projetos falam de si com o outro, vejam-na como um poema.
João Terras