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Encontros com Álvaro Lapa

19 Mar, 201630 Abr, 2016

Curadoria: Eglantina Monteiro e José Maia

Encontro artificial, inútil; um grande incómodo Lapa detestava a vida pública; escrevia, desenhava e pintava pela sua saúde. Era mais do que um lenitivo, fazia parte da “metodologia do inadaptado”: uma coisa para si próprio,
“essa visão da realidade vale a outra, e a outra, e a outra – o espectáculo dos olhos, dos pénis, dos ruídos, substituem os dos campos, se tos negam – vaya adentro, en el próprio íntimo y muy personal descubrimiento – hay que evadirse, vaya!”  [Álvaro Lapa , Raso Como o Chão]
É difícil viver num mundo que não tem nada de bom nem de bonito.
O Porto é a prisão possível.
Antes de lá chegar já fora Abdul Varetti o escritor falhado, eremita numa cabana em Lagos a bordar profecias em lonas amarradas a ferros, pescador travestido – sereia que abandona o rabo de peixe e se perde em terra.
Nunca se é da terra em que se nasce. A madrinha tinha um projecto para ele; havia de arrepender-se.
“…intelectualmente desertor: recuo instintivo ante a forma, quem quer que a imponha, a sugira. A talvez nobre arte da retirada” [Alvaro Lapa, Lagos 15/04/1973]
Ironia do destino, depois dos excessos beatnik, das viagens, do internamento psiquiátrico, chegou a professor.
Os alunos das Belas-Artes não entendiam o que dizia, mas voltavam. Corda tensa; lia e pensava em voz alta. Silêncio. Voltava todas as semanas, lugar artificial, inútil pedagogia das grelhas e dos objectivos: “A grelha é a do cárcere”, escreveu, pintou e desenhou-as, também dizia-o aos alunos. Tudo era descontínuo, fragmentado, tudo implicava todo o ser: não há um Lapa pintor, um que escrevia e outro professor.
As aulas não tinham a função habitual de comunicação: não transmitiam pensamentos já constituídos e claros; não havia sequências lógicas, na escrita também não. Trata-se de palavras, mas também de um corpo ambíguo, com muito sentidos, entrecortado. A metodologia do pedagogo inadaptado: era chegar ao pensamento imprevisível através da repetição. Há que evadir-se.
Os estudantes voltavam, voltavam sempre: eram as manhãs do fim.
“Um anarquismo integral, de produção natural, será a forma que se antevê, irá ser escolhida pela humaniade emancipada.” Abdul Varetti
(Eglantina Monteiro, Porto 19 de março de 2016)

PROGRAMA
19 de Março 2016
16h | Inauguração da exposição “Encontros com Álvaro Lapa”
17h30 | Aula com João Sousa Cardoso
9 de abril 2016
17h | Apresentação dos filmes “Mudas Mudanças” (1980) e “Griserie” (1981-1985) de Saguenail, com argumento de Álvaro Lapa. Conversa com Regina Guimarães e Saguenail
16 de abril 2016
17h30 | Ana Deus lê texto de Álvaro Lapa
23 de abril 2016
17h30 | Aula “O teatro Laboratório Prego na Língua na Bruxelas dos Anos 60” com Francisco Palma Dias
30 de abril 2016
17h30 | Aula com Fernando Marques Penteado e Nuno Faria e finissage da exposição “Encontros com Álvaro Lapa”


Rua de Miraflor, 159,
4300-334 Campanhã, Porto

terça a sábado,
15:00 às 19:00


espacomira@miragalerias.net
929 113 431 / 929 145 191