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Inauguração da exposição “Madonna, Deeper and Deeper”

Abr 15Mai 27

“Madonna, Deeper and Deeper”
Mostra comemorativa do 25 de ABRIL e 1°de Maio, no MIRA.
Integrada no programa das comemorações do 10º aniversário do MIRA.
Pintura, desenho, vídeo, instalação, memorabilia, performances, concertos, DJ set e conferência.
A inauguração acontece no dia 15 de Abril, pelas 16h.
Exposição patente até 27 Maio 2023
Alexandre Osório | Alice Geirinhas | Alice Martins | April |António Lago | Filipa Valente | Francisca Castro | Éric Many | Inês Coelho | Nika | João Sousa Cardoso | José Almeida Pereira | Marta Amorim | Manuel Santos Maia | Nenaza | Super Bronca | Sérgio Costa Araújo | Sérgio Leitão | Teresa Bessa | Vítor Moreira
Programa*
15 de Abril
16h00 _ Inauguração da exposição Madonna, Deeper and Deeper
16h30 _ Performance de António Lago
17h00 _ Performance de April
17h30 _ Concerto de Super Bronca
18h00 _ DJ set Nenaza
22 de Abril
16h _ “Madonna: Uma Americana em Paris”
A iconoclastia, o HIV, o fim da guerra fria e outras memórias, 1986-1993
Conferência por João Sousa Cardoso
Curadoria: José Maia, Sérgio Costa Araújo
Assistente de curadoria: Marta Aires Ferreira
“Madonna, Deeper and Deeper”
Exposição coletiva
“Multifacetada, Madonna expõe a sua visão nos mais diversos temas, como a crítica à igreja católica e ao sistema religioso, o seu empoderamento feminista e ativismo político. Nos anos 80 quebrou as normas sociais, chocando a sociedade com a sua visão da Mulher e da sua sexualidade focada no prazer e nas fantasias. David Bowie foi uma influência para si, e o concerto que assistiu em adolescente deixou vincada em si essa persona de sexualidade fluída que celebrava o ser diferente.
Tanto na música como nas suas performances, criou imagens vívidas sobre a Mulher liberta das tradições conservadoras, o que foi visto como um ataque aos valores familiares e católicos. Sem receio de expor o corpo e sem pudor em relação à sua sexualidade, continua a disseminar a liberdade e a libertação do corpo feminino.
Madonna foi ativista numa altura em que não estava na moda o ativismo. Nos seus videoclips e performances sempre inclui negros, latinos e homossexuais, numa verdadeira representação da sociedade. As suas atitudes consideradas ofensivas pela Igreja e pela sociedade em geral fez com que estas fossem notadas, dando-lhe uma imortalidade da luta pela não conformidade dos padrões impostos. Não se deixando intimidar pelas tentativas de censura e proibição da Igreja e dos partidos políticos.
Com a digressão do seu mais recente álbum Madame X, Madonna apostou em performances mais intimistas com recurso a telas com transparência onde figuram imagens e frases poderosas que refletem o seu desejo de uma arte ativista. A performance inicia com a canção “God Control”, uma crítica à violência, ao fácil recurso a armas por parte da população que gera massacres, nomeadamente a escolas e à comunidade LGTB. Também o sistema religioso não fica de fora da sua crítica, como se pode verificar na sua canção “Dark Ballet”.
Em momentos em que os fãs lhe pedem que boicote a sua ida ao Festival da Canção, Madonna mostra a sua voz ativa, mesmo em eventos não políticos. Na 64ª edição do Festival, e mesmo tendo sido alertada para a neutralidade do mesmo, Madonna incluiu na sua atuação a chamada de atenção para o conflito israelo-palestiniano através da presença das bandeiras dos dois países e das palavras “Wake up” no final da sua performance.”
Texto de Marta Aires Ferreira
Quem é Madonna?
40 anos passaram e a pergunta persiste: quem é Madonna? Para os fãs adolescentes, ou outrora adolescentes, entusiastas da cultura POP e das causas sociais, Madonna é mais do que uma imagem, é o objecto de desejo perfeito para corações inquietos, o referencial óbvio para quem vê na aceitação da diferença sinónimo notável de distinção e território de pertença. Assim éramos/ somos nós. Este culto catapulta para um status sócio-cultural mais elevado onde os valores da participação, da autodeterminação, da liberdade e da democracia se justapõem. Uma lutadora incansável. É contundente: “Muitas celebridades fazem uma espécie de confissão pública ‘Oh, abusaram de mim quando era criança’ ou ‘Tenho problemas com a bebida’, eu não tenho desculpas nem peço perdões. E isso é muito perturbante para as pessoas”. Chris Heat entrevista Madonna para confirmar ou infirmar o rótulo de “Material Girl”: “Qual destas coisas sentirias mais falta: da tua fama ou da tua colecção de arte?” Madonna responde: “A minha colecção de arte. Olha para aquele Picasso. A minha colecção de arte é a alma de outras pessoas – o sangue, o suor e as lágrimas de outros artistas, e isso é infinitamente mais valioso do que a fama.” Madonna, que repete vezes sem conta que o primeiro concerto que assistiu foi de David Bowie, Cobo Arena, Detroit, foi sentenciada pelas suas opções culturais: estava no liceu, saiu às escondidas e ficou de castigo o resto do Verão. Até onde arriscar em nome da arte? Os objectos mais valiosos que possui admite, são o “Retrato de Dora Mars” de Picasso e o “Auto-Retrato” de Frida Kahlo.
Quem é Madonna? O modo como diversifica os papéis e os baralha, como seduz, como cria em nós necessidades que projecta a partir de um patamar superior posicionado já num lugar de futuro. Com esse mecanismo faz crescer em nós a vontade de nos fundirmos nela. A cada novo visual uma nova necessidade de consumo, uma nova forma de identificação que pode ser um tipo particular de vestuário, um determinado penteado, um adereço corporal distintivo e, mais importante, uma ideia nova, suficientemente galvanizadora que perturbe o status quo.
Quem é Madonna? Os sinais do corpo, quer no seu movimento, na sua imobilidade, na sua simetria ou assimetria – o corpo de Madonna não se limita a falar, grita! Se Isadora Duncan precisava de dançar para partilhar o que sentia, Madonna, ao contrário, não é intraduzível, é fácil de compreender porque comunica simultaneamente connosco através da dança e pela vocalização do seu ideário. Um repertório extenso e variado que nos fala sobre a redenção, a exploração do misticismo, os diferentes tipos de espiritualidade, a relação com a fama (e a relação do mundo com a fama), a família, os equinócios do espírito, o amor e, claro, o sexo. O mesmo sexo que justificou o livro SEX por achar que a cultura estava inundada de fantasias sexuais e que por isso queria fazer algo sobre o ponto de vista feminino. Manifestamente, não foi compreendida. Estava à frente do seu tempo. Após aquilo que foi descrito como a maratona do sexo – o lançamento quase simultâneo do Livro SEX, do álbum Erótica e do filme Corpo de Delito, foi decretada a sua obsolescência…
Manteve-se ainda assim um dos rostos mais importantes da causa da SIDA, à qual se juntou quando o seu amigo e primeiro agente Martin Burgoyne morreu vítima de SIDA em 1987. E sobreviveu, enquanto mulher e artista, talvez por ter presente que ao contrário de outras super-estrelas teve a possibilidade de viver 25 anos sem ser escrutinada – a idade que tinha quando editou o primeiro disco. Sobre a idade e as mudanças corporais assumia há 30 anos atrás: “Eu quero ser boa para o meu corpo. Não quero expor-me demasiado ao sol e comer demasiadas porcarias e quero exercitar-me porque quero manter-me saudável e ter boa aparência física o máximo de tempo possível.” E quando questionada sobre se algum dia faria uma intervenção estética, respondia: “já pensei nisso, mas ainda não decidi se o faria porque detesto que me adormeçam, aterroriza-me. E existe aquela hipótese num milhão de que as coisas corram mal. Depois, eu sou o que sou, quer queiram ou não. Olhem para o Jack Nicholson, e para todas as estrelas. É-lhes permitido ter ‘pés de galinha’ e rugas na cara e está tudo bem.” E da desvantagem de ser mulher num mundo de pressões: “É uma merda, mas nem sequer as mulheres gostam de ver as outras envelhecer – estamos programadas para pensar assim e é horrível. E um homem mais velho pode estar com uma rapariga de 16 anos e ninguém liga, mas quando é o contrário, chamam-lhe todos os nomes, acham-na patética e nojenta. Está tudo errado. Mas o que podemos fazer?”
Recentemente, o Instagram removeu imagens suas alegando violarem as políticas de nudez da rede social. A artista voltou a publicar com sucesso as fotos, desta vez com o emoji sobre os mamilos, o principal motivo da censura. A lutar continuamente no campo das imagens, critica a posição do Instagram e das redes sociais sediadas nos Estados Unidos da América, relativamente à nudez feminina: “Cada centímetro do corpo da mulher pode ser exposto, excepto o mamilo”. Parece ser para ela surpreendente viver ainda “numa cultura que permite que cada centímetro do corpo da mulher possa ser exposto, excepto o mamilo. Como se essa fosse a única parte da anatomia da mulher que pudesse ser sexualizada. O mamilo que alimenta o bebé!” A luta contra a misoginia estende-se hoje ao idadismo: “Este mundo recusa celebrar mulheres com mais de 45 anos”. Na última edição dos Grammy: “Queria entregar o prémio para Álbum do Ano, mas senti ser mais importante entregar o primeiro prémio de sempre, a uma mulher transgénero.” Foi a História a acontecer ou a história a repetir-se? O idadismo e a misoginia que nas suas palavras a perseguem: “A maior parte das pessoas preferiu falar sobre fotografias minhas, tiradas por um fotógrafo que distorceria a cara de qualquer pessoa. Mais uma vez, isto é fruto do idadismo e da misoginia que domina o mundo em que vivemos. (…) Este mundo recusa celebrar mulheres com mais de 45 anos e sente a necessidade de as castigar se prosseguirem mentalmente fortes, trabalhadoras e aventureiras. Nunca pedi desculpa pela minha aparência e não será agora que o farei.”
Quem é Madonna? Talvez o impacto de ter perdido a mãe ajude a responder: “Lidar com a morte é um sentido de perda, e com o facto de não ter uma mãe que me criasse… Nunca considerei a minha madrasta como uma mãe, continuava a pensar nela como a empregada, pelo que cresci apenas com as influências do meu pai. Tenho tendência a demonstrar um ponto de vista tradicionalmente masculino sobre muitas coisas. Nunca cresci com uma mãe a dizer-me que me ia casar, ter filhos e cozinhar certos pratos, pelo que não sou tão doméstica como outras mulheres. E tenho a certeza que me deu forças para fazer muitas das coisas que fiz, para ir a Nova Iorque sem dinheiro nem contactos. Pelo que embora não seja certamente a única razão pela qual eu sou o que sou, sei que tem muita relação, tenho a certeza.” E Madonna não lida bem com finais machistas. No vídeo da versão de “I Want You” de Marvin Gaye que grava com os Massive Attack, uma personagem feminina aguarda por um sinal de alguém que não corresponde ao seu amor e quando esse sinal finalmente aparece, ela decide desistir numa atitude de amor próprio. Isto é activismo. Sobre activismo Madonna assumia em 1995 à revista norte-americana George: “Não me interpretem mal. Gosto da ideia de ser uma inspiração para os oprimidos, de educar as massas. Gosto da ideia de lutar por direitos iguais para mulheres, gays e todas as minorias. Gosto da ideia de abraçar outros países e outras culturas e promover a paz mundial. Lutar o bom combate, por assim dizer. Mas acho que prefiro fazer isso como artista. Porque os artistas podem cometer erros e os artistas podem ter ideias não convencionais e os artistas podem ter excesso de peso, vestir-se mal e ter uma opinião. Os artistas podem ter um passado. Em suma, os artistas podem ser humanos. (…) Vivemos numa sociedade cada vez mais medrosa – muitas pessoas têm armas, muitas pessoas têm medo, muitas pessoas lutam e muitas pessoas precisam de um bode expiatório. Alguém para culpar. (…) Isso é apenas uma ideia, mas não me façam começar – já tenho problemas suficientes!”. Assim é Madonna nas suas palavras e ainda mais nas palavras simples daqueles que a rodeiam. Descrevem-na perfumada num cocktail de três perfumes: Black Narcissus (o seu perfume da sorte), gardénia e tuberose.. e como alguém para quem a felicidade pura pode ser materializada num simples iogurte de coco bem gelado.
Quem é Madonna? É uma artista que não cabe nos consensos simplesmente porque ela tensiona fronteiras. Madonna não é original, mas também não é um plágio; ela não é totalmente feminina, e ainda menos totalmente masculina; ela não é tão bem vestida, mas é extremamente imitada; ela nem sempre é elegante, mas também não é completamente vulgar… São os trajectos que traduzem a originalidade desta artista mutante, que ousou desbravar temas problemáticos, mas que, ainda assim, serviu-se deles para alavancar a sua carreira. Madonna é o retrato de uma geração que pede por mudanças, que se saturou dos estereótipos e adora as infracções. Uma geração que, até pode defender o binarismo de género, mas não se molda neles. Uma geração que amou o estilo dark dos anos 1980, mas também ama a sexualização dos anos 1990. Os ídolos são a cara de um tempo e são a cara do seu público: por mais que o espectador tenha manifestado alguma repugnância de qualquer performance já realizada por ela, Madonna estava a falar para ele e sobre ele. Embora a pergunta sobre quem é esta rapariga jamais seja suficientemente respondida, atrever-nos-íamos a suspeitar que Madonna é o arquétipo de uma geração viciada na novidade, sedenta por apelos transitórios, entorpecida pela efemeridade… O fenómeno de marketing MADONNA traduz uma geração que adora as tensões das fronteiras e clama por outras possibilidades identitárias fora de binarismos (bom gosto/mau gosto, ele/ela, bem/mal, elegante/vulgar…).
Quem é Madonna? A resposta parece ainda não existir. Talvez o espectador, perdido neste labirinto de 40 anos de imagens icónicas, possa no final arriscar uma resposta.
Texto de Sérgio Costa Araújo e Roney Gusmão
Madonna: Uma Americana em Paris
A iconoclastia, o HIV, o fim da guerra fria e outras memórias, 1986-1993
Inspirada por Charles Baudelaire, Madonna, dizia em 1991 ser a sua própria obra de arte. Estrela da televisão e do videoclip, Madonna é uma performing artist que ampliou o horizonte estético, a provocação iconoclasta, a consciência política da mulher e das minorias no universo pop mainstream como nenhum outro artista. E encontrou na nostalgia da fotografia e do cinema, na moda europeia, nos concertos, nos acontecimentos, nas revistas e no livro SEX a resposta à América do patriarcado enquanto reinventava o imaginário das democracias.

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terça a sábado,
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