"A ROTA DO CARTÃO"
Exposição Coletiva
Exposição, MIRA FORUM
27 de junho 2025—26 de julho 2025

Conhecemos o Sr. Manuel quando chegámos a Miraflor, há quase 12 anos. Desde então, vemo-lo sair do armazém de manhã com o carrinho vazio, desce a rua, curva no Broas e Broinhas e sobe a rua de Padre António Vieira. O carrinho já conhece o percurso: vira no Heroísmo, segue, segue, segue, passa pelo Stop, pelo cemitério e faz a primeira paragem nas floristas, os espaços mais coloridos e cheirosos do seu percurso. O circuito é como uma ronda a bater todas as capelinhas: o talho, a loja chinesa, os pomares, a loja dos congelados para além dos restaurantes e cafés. Os moradores comuns, que já lhe conhecem os passos e as horas, deixam à porta o cartão bem empilhado o que facilita a tarefa de recolha. O regresso é o percurso ao contrário mas adota a rua Miraflor para regressar porque é sempre a descer.
O carro é pesado e a cada ano que passa mais pesado fica. No armazém é tempo de desfazer as caixas e amanhar o cartão pelos sítios certos que são os que dão menos trabalho. O Sr. Manuel conhece-lhe as dobras e as manhas, aperta-os, vinca-os e vai enchendo as caixas para depois serem levantadas e entregues em Valongo. O destino final é a China porque em Portugal o tratamento deste material fica mais caro do que o recurso à madeira.
Desde 2015 que o armazém tem sido lugar de performances e instalações de diferentes artistas que, curiosos, espreitam, entram e veem possibilidades que não encontram em mais lado nenhum.
Neste projeto, acolhemos artistas que usam cartão no seu trabalho, em que o cartão é a matéria que dá corpo ao projeto criativo, ou que o citam, ou então o convocam para se dizerem de muitas formas.
O músico e compositor Jorge Queijo viu nas caixas de cartão e na sucata de metal uma bateria expandida no espaço do armazém enquanto Susana Chiocca percorreu parte do percurso diário do Sr. Manuel cruzando esta experiência com a que realizou em Luanda, “Globula”, de Ana Deus e Paulo Ansiães Monteiro (PAM) combina uma bola feita de cartão e papel onde um vídeo, “Made in China”, é projetado. Sem pretender ser um registo documental estrito, Manuela Matos Monteiro apresenta fotografias do Sr. Manuel no percurso, no ato de recolha e dobragem do cartão dando protagonismo aos materiais empilhados no armazém.
Cerca de 300 cartazes de protesto digitalizados do Arquivo EPHEMERA são testemunho das vozes que encontram no cartão um meio de comunicar. Teresa Pacheco Miranda conta esta Rota do Cartão num vídeo documental realizado em maio e junho deste ano.
O Sr. Manuel será o único coletor de cartão da cidade o que significa que esta atividade vai desaparecer. Esta exposição constrói memória de uma prática e também de uma rua prolongando, de certo modo, o projeto “Mapa Emocional de Miraflor”.
Estamos em Miraflor a viver, a mostrar, a contar, cruzando a prática artística com a comunidade que nos considera seus.
E somos!
A ROTA DO CARTÃO
Documentação





























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