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"GEOLOGIA DA ATENÇÃO"

Marcelo Moscheta

Exposição, MIRA FORUM


05 de julho 2025—26 de julho 2025

A presente exposição resulta da investigação artística desenvolvida por Marcelo Moscheta na região do Alentejo, a partir da sua residência na Pó de Vir a Ser, em Évora. Ali, encontrou a possibilidade de trabalhar nos ateliers de escultura enquanto criava um campo de atenção à geologia do território.

Dando continuidade ao seu percurso, no qual a caminhada se afirma como prática artística, Marcelo Moscheta aprofundou no Alentejo uma reflexão, nas suas palavras, “interessada na condição errante da humanidade e na forma como se estabelece a ligação entre o território e um corpo em constante movimento. Tendo a pedra como principal testemunho das transformações causadas pelo constante trânsito, a superfície do mundo torna-se o seu campo de ação, e a paisagem natural o seu lugar por excelência.”

A caminhada como um modo de atenção e uma poiésis no território é acompanhada, no trabalho de Marcelo, por um compasso profundo: o tempo.

O tempo é evidência e forma na rocha; é na pedra que se manifesta a heterocronia e a metamorfose dilatada cuja evidência material abre a possibilidade para a criação de escalas, narrativas, composições e montagens, uma geologia própria. A escultura, neste contexto, é também uma epistemologia pós-disciplinar, onde arte e ciência se entrelaçam como formas complementares de produzir conhecimento.

Corpo, geologia e escultura como composição situada: são elementos que persistem no trabalho do artista, como de resto, se pode observar nas suas mais recentes criações. Em Léxico Lítico (Toda Pedra é uma pequena Montanha) (2023), por exemplo, o escultor recolheu rochas sedimentares na Serra da Lousã, que, “após milhares de anos de sedimentação, acúmulo e solidificação, transformaram-se em pedra”.

Ou ainda nas obras da série em Do Discurso do Caminhar (2023), onde o artista “cria um jogo de encontros aleatórios” entre texto e imagem, a partir de noções como “errância, movimento e intervenções em paisagens urbanas e rurais”. Esse jogo torna-se um alter-território, que convoca uma conexão poética com o espectador e convida à caminhada situada através dos lugares representados na exposição. O jogo ou o esgotamento das possibilidades combinatórias da matéria está igualmente presente na obra “Autopoiesis #1 (pedra flutuante)”, na qual Marcelo Moscheta forma um glossário de elementos que fazem ecoar a etimologia filosófica da palavra autopoiesis: “a descrição de sistemas capazes de se criar e se manter a partir de si mesmos”. Léxicos, vocabulários e glossários são formas clássicas de organização e classificação científica, que aqui, uma vez mais, se comutam como uma investigação artística, uma desordem generativa para outras formas de produzir e organizar conhecimento, e que convocam na audiência um novo inquérito aos elementos naturais apresentados em exposição.*

No encontro de Marcelo Moscheta com a Geologia da Atenção, na Pó de Vir a Ser, revela-se, enfim, um campo de trabalho e de desejo comum. Justamente ali, nos ateliers de escultura em pedra do antigo matadouro de Évora, a pedra é suspensa como matéria-prima, e a escultura surge como uma prática de conhecimento e atenção:

“Procuramos o que se transforma, recombina e se funde num movimento tão ancestral quanto atual na rocha, naquilo que nos constitui e também no que nos rodeia. O que se move e varia na aparente superfície acabada da crosta, de uma forma? Como despertar a atenção para essa pequena, mas efetiva, escala de transformação das coisas, da matéria?” *

* As citações em texto são da autoria do artista Marcelo Moscheta.

** Cit. www.podeviraser.pt.

Nota Biográfica

Marcelo Moscheta n. 1976, São José do Rio Preto, vive e trabalha em Coimbra. 

Marcelo Moscheta éum artista cuja prática se estrutura a partir do deslocamento — físico, geográfico e conceitual. Caminhadas, expedições e residências moldam seu trabalho, que articula ciência, geografia, memória e paisagem em investigações poéticas e materiais. Ao longo de sua trajetória, percorreu lugares como o Ártico, o deserto do Atacama, o Rio Tietêe, mais recentemente, Portugal, onde vive e desenvolve sua pesquisa de doutorado.

Seus trabalhos combinam precisão empírica com sensibilidade crítica, refletindo sobre a presença humana no território e sobre os modos de medir, representar e transformar o mundo. Através de desenhos, frottages, instalações e coleta de materiais naturais, Moscheta constrói um corpo de obra que opera como cartografia afetiva e arqueológica de seus percursos.

Documentação

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