Na próxima quinta-feira, 22 de setembro, decorre a 59ª Conversa sobre Projetos Fotográficos, com Francisco Feio que irá apresentar “in-Visível”.
A sessão decorre através da ZOOM e LIVE da página do Facebook MIRA FORUM.
Exposição | in-Visível
Da construção do visível
In-Visível desenvolve-se em torno de três questões que que se relacionam diretamente com a fotografia e a prática fotográfica: representação, tempo e memória.
Quer consideremos o lado técnico ou o da recepção, a fotografia tem especificidades ao nível da representação do visível que a tornam diferente de outros tipos de representação visual. À aparente transparência que herda do lado técnico, em que representação e representado se parecem equivaler, somam-se camadas de opacidade no que respeita à leitura e interpretação da imagem. Este conjunto de fotografias explora a tensão entre esses dois níveis diluindo a transparência com que o representado é mostrado, abrindo espaço à construção de narrativas pessoais através do confronto entre o sujeito e o observado.
Se o tempo é uma característica intrínseca ao fazer fotográfico (a fotografia resulta, entre outras acções, da exposição de um material sensível, a uma quantidade de luz durante um determinado período de tempo) também é, pós-acto fotográfico, fazedor de imagem, através das alterações físicas que os materiais vão sofrendo com o consequente desvanecimento da imagem, a sobreposição de efeitos não controlados sobre a superfície que se vai degradando e que vão alterando a nossa percepção do representado, fazendo com que esta se vá alterando ao longo do tempo. As fotografias também são objectos, degradam-se e modificam-se, envelhecem como tudo o resto que existe. A esse trabalho do tempo, corresponde um outro, do espectador, que vai reconstruindo continuamente a sua relação com a imagem, muitas vezes de perda da representação já que o representado, esse, já desapareceu.
Chegamos assim à memória, à construção de um arquivo pessoal e íntimo das coisas vistas. Prova de existência, espelho com memória ou miniaturização do mundo, desde o início que a fotografia se dedicou a lutar contra o esquecimento e a arquivar, alterando de forma permanente o modo como lembramos e experimentamos o mundo. Mas a memória é uma construção, com tudo o que vai sendo acumulado e apagado pelo tempo, reescrevendo continuamente a narrativa do passado e, nesse sentido, tudo o que se vai sobrepondo à imagem fotográfica aproxima-a da orgânica difusa da memória.
Francisco Feio, janeiro de 2020
BIOGRAFIA
Francisco Feio, nasceu em Lisboa em 1962. Formou-se em pintura na ESBAL, mas o seu trabalho tem sido desenvolvido em torno da linguagem e dos suportes fotográficos, com especial incidência, nos últimos anos, numa vertente mais experimental cruzando processos tradicionais e alternativos com tecnologias digitais. Para além da prática fotográfica e do seu ensino, investiga nas áreas de história, estética e filosofia da fotografia e tem igualmente produção escrita sobre a disciplina.