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Antes de mais nada

19 Out, 201326 Out, 2013

O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem.
(Alberto Caeiro)

Quando pela primeira vez vimos a banda dos onze armazéns da rua de Miraflor, a impressão que nos causou foi que ali habitava o abandono. Eram armazéns entristecidos por uma solidão não imaginada por quem os projetou, construiu e usou durante décadas.
Publicidades antigas e gastas espreitavam pelos buracos do que outrora foram caixas de correio. Apesar de puídas pelo tempo, as portas continuavam fortes e, quando escancaradas, deram a conhecer labirínticos interiores onde, misturados com lixo e pós acumulados, se amontoavam materiais de escritório, maquinarias várias, livros de faturas, cadeiras, cacifos com cromos de antigas glórias do futebol, uma televisão e rádios sem tom nem som. O espelho do quarto de banho moído pela humidade deixara há muito de refletir gente.

Tecer o passado do lugar com as exigências do mundo de hoje era o nosso desejo que a arquiteta Adriana Floret tão bem exprimiu num projeto exemplar de reabilitação E, logo nas primeiras explorações, os armazéns desocultaram a sua original traça. Retiradas as mezanines de dexions e tabopans que os comércios vários foram somando durante décadas, deram-se a conhecer janelas emparedadas, um pé direito majestoso, espaços largos e amplos. Abrindo janelas, portas e postigos até então entaipados, os armazéns puderam respirar de novo e de novo deixar que a luz os penetrasse. E foi, neste processo de descascar tantas próteses, que se deu à luz a sua estrutural monumentalidade acendida pelas claraboias. Descobrimos que sem artefactos modernos os armazéns eram calados, não reverberando vozes nem ruídos, como que habituados a ouvir e calar ao longo de décadas. Em outubro de 2012, o nosso amigo, José Maia, inspirado como sempre, viu naquele lugar ainda despido e cru abrigo para uma efémera mas marcante exposição que reuniu obras de artistas num “encontro inesperado com o diverso”. Em dezembro, Dalila Vaz coordenou um conjunto de atos performativos e doze artistas deram sentido a uma “escrita do corpo e do fazer”.

Partilhámos as nossas descobertas com os amigos de sempre e também com tantos desconhecidos que no facebook compreenderam que alguma coisa de especial se estava a produzir numa rua estreita de Campanhã. No dia 5 de outubro, inaugurámos, no âmbito dos Encontros da Imagem, o armazém com o número 159 – o espaço MIRA – com uma significativa e tocante exposição de Nelson d’ Aires. O projeto do fotógrafo “Álbum de Família” era relido e refletido na exposição “Demorar” em que as questões do tempo das pessoas e dos lugares podiam ser revisitadas naquele armazém.

A 19 de outubro 2013, inauguramos o MIRA fórum, no número 153, procurando com imagens e esquissos dos projetos da arquiteta ligar o passado, o presente e as perspetivas de futuro deste sítio aberto a ideias e projetos individuais e da comunidade. Como os lugares só fazem sentido com pessoas, queremos em alguns nomes agradecer, “antes de mais nada” a tantos que nos permitiram concretizar um projeto imaginado e agora realizado: Adriana, David, Ricardo, Arnaldo, Pedro, Luís, José, Álvaro …

Manuela Matos Monteiro, João Lafuente / outubro de 2013

 

Patente de 19 a 26 de outubro 2013


Rua de Miraflor, 155,
4300-334 Campanhã, Porto

terça a sábado,
15:00 às 19:00


miraforum@miragalerias.net
929 113 431 / 929 145 191