A Fundação Francisco Manuel dos Santos regressa ao MIRA FORUM para apresentar o novo Retrato da Fundação, com a autora, Patricia Carvalho(jornalista do Público), Inês Cardoso (subdirectora do Jornal de Notícias) e Henrique Pereira dos Santos (arquitecto paisagista). Moderação a cargo de Mariana Correia Pinto (jornalista do Público).
A 17 de Junho e a 15 de Outubro do ano passado, o país assistiu, incrédulo, ao alastrar dos violentos incêndios que devastaram, sobretudo, a zona centro do país. O horror instalou-se em cada casa, não tanto pela paisagem ardida – e que foi muita, ascendendo a cerca de 500 mil hectares -, mas pelo número de vidas perdidas. O que ficou conhecido como o incêndio de Pedrógão Grande, em Junho, custou a vida, segundo os dados oficiais, a 66 pessoas. Madrugada fora, e pela manhã, quando o número de vítimas mortais ia subindo a cada hora que passava, parecia impossível que algo assim tivesse acontecido. Que tanta gente – crianças, adultos e velhos – tivesse morrido, em Portugal, num incêndio. A tristeza e o desespero aumentaram ao perceber-se que a maior parte daquelas pessoas tinha morrido a tentar fugir das chamas, num momento de pânico, e que as casas de onde fugiam, ficaram, afinal, intactas, depois de o fogo passar. A Estrada Nacional 236-1, onde tantos morreram dentro ou perto das viaturas usadas como instrumento de fuga, passou a ser sinónimo de “estrada da morte”.
Seguiu-se a raiva por tudo o que falhara e conduzira a tamanha tragédia. E uma onda de solidariedade de enormes proporções. E, depois, quando ninguém queria acreditar que algo idêntico poderia acontecer, chegou Outubro e o pior dia de incêndios do ano. Desta vez, foram 49 as vítimas mortais. Milhares as empresas e casas destruídas. A diferença é que a dispersão foi maior. Não havia um local único a simbolizar a tragédia, como acontecera com a EN 236. As pessoas morreram, na sua maioria, a tentar salvar os bens, não a fugir de um incêndio brutal e que, como tantos repetiram, foi diferente de tudo o que tinham visto até então.
A fotografia da capa do livro é da autoria de Adriano Miranda