“As Ondas” é considerada a obra de caráter mais experimental de Virginia Woolf devido à abordagem modernista que privilegia as personagens em relação à ação, recorrendo à corrente de consciência dos monólogos interiores, e diluindo as diferenças entre prosa e poesia.
Marguerite Yourcenar, que traduziu o romance para francês em 1937, descreveu-o assim:
“”As Ondas” é um livro com seis personagens, ou melhor, seis instrumentos musicais, pois consiste unicamente em monólogos interiores, cujas curvas se sucedem e entrecruzam com uma segurança que lembra a “Arte da Fuga” de Bach. Nesta narrativa musical, os breves pensamentos de infância, as rápidas reflexões sobre os momentos de juventude e de confiante camaradagem desempenham o mesmo papel dos allegri nas sinfonias de Mozart, abrindo espaço para os lentos andantes dos imensos solilóquios sobre a experiência, a solidão e a maturidade.
Tanto como uma meditação sobre a vida, As Ondas é um ensaio sobre a solidão. Trata-se de seis crianças, três raparigas, Rhoda, Jinny e Susan; e de três rapazes, Louis, Neville e Bernard, que vemos crescer, diferenciarem-se e envelhecer. Uma sétima criança, que nunca toma a palavra e que só conhecemos através das outras, é o centro do livro, ou melhor, o seu coração.”
Nota biográfica
Virginia Woolf nasceu em Londres a 25 de janeiro de 1882. O pai, Sir Leslie Stephen era escritor, historiador e crítico literário. Não frequentou a escola; foi educada por professores particulares e pelas aulas do pai. As mortes da mãe, em 1895, quando Virgínia tinha 13 anos, e da meia-irmã, dois anos mais tarde, deram origem a uma sequência de episódios depressivos. Com a morte do pai em 1904, a sua saúde mental agravou-se. Mudou-se para a Bloombury, para casa dum irmão e da irmã, a pintora Vanessa Bell, que se reuniam com outros escritores e artistas que acabaram por formar o conhecido Bloomsbury Group de que Virginia se tornou um membro ativo. Aí conheceu o escritor Leonard Woolf com quem casou em 1912, construindo com o marido uma ligação muito forte. Cinco anos mais tarde, o casal fundou a conhecida editora Hogarth Press que viria a publicar obras, nomeadamente, de T.S. Eliot, E.M. Forster, da própria Virginia Woolf e traduções de Freud. Em 1941, em plena Segunda Guerra e em crise criativa, Virginia sofreu um novo episódio depressivo que a levou ao suicídio por afogamento no rio Ouse, perto de casa, deixando uma comovente nota ao marido, segundo ela, a única pessoa que a poderia ter salvo.” I don’t think two people could have been happier than we have been.” foram as suas últimas palavras para Leonard, recuperadas do seu primeiro romance “A Viagem”.
Tinha quase sessenta anos e nove romances (“A viagem”, “Mrs. Dalloway”, “As Ondas”, “Entre os Atos”, “Orlando”), sete volumes de ensaios (“A room of one’s own”, “The common reader”), duas biografias (“Flush”, “Roger Fly”), um diário e vários contos publicados. No ensaio “A room of one’s own” (“Um quarto só para si”) Virginia Woolf aborda as questões fundadoras do feminismo relacionadas com a condição social das mulheres e a sua pequena representatividade como escritoras e pensadoras, e a educação e a igualdade de oportunidades necessárias ao pleno exercício da liberdade intelectual.
PROGRAMAÇÃO: Lúcia Melo | Odete Correia