“Nelayan: Vontade em Trânsito”
de Eduardo Martins
“Nelayan: Vontade em Trânsito” reclama um olhar contemporâneo sobre a paisagem humana de Caxinas, em Vila do Conde, detentora da comunidade piscatória com maior expressão em Portugal. Visa, assim, contribuir para uma actualização dos documentos visuais do lugar e dos novos ´actores` que o habitam, inserindo-os naquilo que é um fenómeno transnacional.
À semelhança de outros pontos do globo, a realidade de Caxinas é definida pela migração paralela: os pescadores locais saem para o estrangeiro e migrantes, oriundos na sua quase totalidade da Indonésia, maioritariamente de Java, parcela do território com altos níveis de desemprego, são contratados para suprir a falta de mão-de-obra, também acentuada pelo desinteresse das novas gerações pela actividade. Este movimento resulta das condições económicas inerentes à actividade, pautada por um imperativo de redução de custos e baixos salários. Nos últimos anos, os armadores de Vila do Conde têm recorrido de um modo significativo à contratação de pescadores indonésios (Nelayan significa pescador em indonésio) para manter a frota de pesca artesanal da região. Sem eles, uma comunidade minoritária, metade da frota de barcos de pesca artesanal deixaria de operar. Actualmente, pelo menos 500 pescadores da Indonésia estão sediados em Vila Conde e representam mais de 50% da força de trabalho deste sector. São gente movida pelo sonho de proporcionar à sua família melhores condições de vida. Vêm pela vontade de ultrapassar fronteiras geográficas e expandir o seu universo interior. São também eles os novos agentes da transformação económica e social desta paisagem, cujo imaginário se encontra ainda muito associado à literatura e criação áudio-visual do passado. Neyalan, apesar de ser um substantivo, define sobretudo uma acção, a de viver o presente como prólogo do futuro.
Exposição patente de 11 de fevereiro a 25 de março