A galeria MIRA FORUM decidiu há um ano prestar uma homenagem ao GAATP – Grupo dos Amigos das Adegas e Tascos do Porto – que desde 2012 procura dar a conhecer e preservar os tascos da cidade do Porto. Pela sua ação, estas casas de tradição e memória têm sido frequentadas por um público mais diversificado que foi aprendendo a reconhecer a importância destes lugares na cidade e que progressivamente vão desaparecendo. Muitos fotógrafos que frequentam o MIRA iniciaram-se na arte de peregrinar por estes sítios entremeando os petiscos com as fotografias e longas conversas. Entreabriram as portas dos tascos abertas à cidade no vaivém do mostra e esconde o que se passa na rua, o que se passa no tasco. São as suas fotografias que agora se mostram. Nestas andanças, conheceram ou reconheceram o balcão, lugar de pousar de pé mas de vida pousada como num divã em que se contam as histórias, as vidas, as amarguras com o vinho a soltar a palavra, a fazer dizer mais do que se quer. Quem está do outro lado do balcão serve bebida e serve escuta, muita escuta e, assim, acolhe e espanta solidões, desamparos e tristezas. Desfiam-se histórias presentes mas ainda mais histórias de outros tempos em que a crise era tanta que nem nome tinha. Nas prateleiras, os santos e santas convivem com Nossas Senhoras e crucifixos e tantas vezes com a Iemanjá, o Buda e talismãs de muitas paragens. As fotografias da família e da equipa de futebol de eleição, que também é família, dão-se bem com canecas, cartas de baralhos incompletos, medidas, pagelas, panfletos, calotes caducados, cassetes pirata de outros tempos …. A montra com o aviso “Só para consumo da casa” mais do que seduzir prováveis clientes é janela para o mundo lá fora tão perto, tão longe. Os tascos do Porto estão a desaparecer porque a realidade que os criou já não existe, porque a pressão do que é novo e luminoso é grande, porque a especulação imobiliária fala mais alto, porque os filhos levaram à letra os avisos dos pais e fizeram tudo para se verem livres do modo de vida do tasco. Os tascos fotografados não estão identificados e é um coletivo de 13 fotógrafos que assume a autoria das 42 fotografias impressas expostas nas paredes de granito da galeria e cerca de 250 projetadas. Este “anonimato” tem um objetivo que é eleger o GAATP e, afinal, os tascos do Porto, como o centro desta homenagem.
Exposição patente de 18 junho até 30 julho 2016