de Cláudia Clemente
Entendo o humor como derradeiro bastião de resistência possíuvel, e a sátira como uma forma de sobreviver a um mundo cada vez mais absurdo, hostil e ininteligível. Esta série, iniciada em 2010, consiste num conjunto de encenações aparentemente simples recorrendo a uma multiplicidade de personagens: desde clássicos do Cinema (“Os livros” a citar “Os pássaros” de Hitchcock, a “Supermom” a aplicar os seus superpoderes às exigências do quotidiano, o “007” de arma e dry martini em punho) até ilustres figuras históricas nacionais (“São rosas, Senhor!”), revisitando ícones da cultura tradicional portuguesa (a varina, o galo de Barcelos) e passando por muitos outros paradigmas ou elementos do imaginário colectivo – a fénix, a sereia, a dona de casa perfeita – nos quais me revejo ou reinvento. Contrariando essa aparente simplicidade nas encenações existe uma deliberada artificialidade nas poses e na iluminação, que nos recorda que nada há de natural nestes meus seres-sombra, mas todo o seu contrário. Com o absurdo retratado nestes personagens pretende-se criar uma tensão, causar um certo mal-estar, produzir aquele riso nervoso que arrasta o observador e o retira da sua zona de conforto. Mergulhemos pois no território desconfortável da instrospecção, dos sonhos, da escuridão – o perigoso mundo do interior de nós mesmos. (Claudia Clemente)